Folleta vem de folleto – folheto ou panfleto: um pedaço impresso feito para uso momentâneo, distribuído nas esquinas das cidades. Folleta também é uma dose de vinho. O ateliê nasce do encontro com os impressos como vestígios de uma biografia relida coletivamente em uma casa que se senta junto e se partilha estudos, leituras, trabalhos de arte e tudo mais que faz parte da vida.
Guardei por 20 anos panfletos, zines, jornais, livros de artista, livros convencionais, e pela primeira vez tenho tudo numa casa alugada no bairro do Ipiranga, perto do metrô Sacomã. Biblioteca, espaço expositivo e lugar para receber pessoas. Aqui tem livro até na cozinha, e na varanda tem luzes imersas em garrafas de vinho. Eu te espero para trocarmos muitas histórias.
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O Ipiranga se localiza na zona sudeste de São Paulo. É um bairro histórico, pois se diz que nele aconteceu a Independência do Brasil: “ouviram do Ipiranga as margens plácidas”, mas sua história também é de luta e resistência, coisas que vão muito além do grito. A urbanização do bairro é do século XX e se relaciona com a industrialização e a resistência das pessoas trabalhadoras por meio de greves e piquetes.
Folleta é parte do meu pós-doutorado no Programa de Estudos Avançados de Cultura Visual da UFRJ com acompanhamento de Alice Fátima Martins. A pesquisa é o cruzamento da memória do bairro, tanto sua espacialidade dos anos 1900 quanto seus vestígios no hoje, com a minha produção como artista, publicadora e colecionadora. O que em uma casa pode-se guardar, organizar e excluir?
De agosto de 2022 a janeiro de 2023 foi realizada a primeira etapa que foi encerrada no dia 28 de janeiro com o fim da primeira exposição Estas são as palavras: escute-as. A segunda etapa é agora e se chama o feminismo que eu vivo.
Fernanda Grigolin